A paisagem dos becos da Rocinha, uma das maiores comunidades do Rio de Janeiro, começa a mudar com o fim dos chamados “macarrões” — aquelas tubulações improvisadas que há décadas cruzam vielas e escadarias, expondo moradores a riscos de contaminação e dificultando a mobilidade. A Águas do Rio, concessionária do grupo Aegea, está reestruturando todo o sistema de abastecimento na região da Roupa Suja, área localizada sobre o Túnel Zuzu Angel, beneficiando mais de 16 mil moradores.
A intervenção, uma das mais complexas já realizadas pela empresa, envolveu a retirada de 800 quilos de tubulações antigas e a substituição por redes novas e modernas, com diâmetro adequado para garantir um fornecimento contínuo e seguro. Devido à topografia acidentada e à dificuldade de acesso, os profissionais da concessionária utilizaram até técnicas de alpinismo industrial, como o rapel, para alcançar áreas onde nem escadas passavam.
“Trabalhar aqui é diferente. Nossa base operacional fica dentro da Rocinha, e quando escutamos o nome ‘Roupa Suja’, é impossível não sentir. Isso nos incomoda, porque não representa o que essa comunidade é. E ver o nome deixar de fazer sentido, por conta do nosso trabalho, é simbólico demais”, afirma Luiz Guilherme, coordenador de operações da Águas do Rio.
A obra, que recebeu investimento de quase R$ 2 milhões, também incluiu a instalação de um sistema de bombeamento para superar os desafios impostos pelo relevo e assegurar que a água chegue com pressão adequada a todas as residências.
Moradores relatam o impacto direto da mudança no cotidiano. Daise Bezerra de Souza, de 48 anos, secretária da Associação de Moradores da Roupa Suja, lembra das quedas provocadas pelos canos improvisados, que deixavam as vielas sempre molhadas e escorregadias. Durante a pandemia, ela chegou a fraturar o tornozelo em um acidente causado pelos “macarrões”.
“Nunca tinha visto a água chegar com pressão e qualidade nas casas. É a primeira vez que vivemos isso, e todos estão muito felizes. Agora podemos abrir a torneira sem medo do improviso, sem as quedas e com a dignidade que sempre sonhamos”, comemora Daise.
O entregador Emerson Campos, de 24 anos, também viu sua rotina mudar. “Minha esposa, grávida de oito meses, chegou a cair de joelhos nos canos. Hoje, posso andar sem olhar pro chão. É outra vida”, contou.
Com o avanço das obras e o fim das ligações improvisadas, a Rocinha dá mais um passo rumo à formalização do abastecimento e à melhoria da qualidade de vida de seus moradores — um símbolo de como infraestrutura e dignidade caminham juntas nas comunidades cariocas.










